sábado, 28 de março de 2009

Rede de contradição

Desde 2007, o governo do Estado anuncia

a expansão de rede de saúde pública

com a inauguração de Unidades

de Pronto-Atendimento (UPAa), alardeando-as

como a solução para a redução do número de

pacientes nas filas dos hospitais. Na teoria, elas

teriam condições de resolver problemas menos

graves, evitando sobrecarrega das emergências.

Mas, na prática, têm grande carência de médicos,

principalmente clínicos, ortopedistas e pediatras.

E, contrariando a sua função inicial, indicam hospitais

de emergência até para pacientes com problemas

simples, por falta de especialistas.

Esta semana, o governo confirmou a falta de

médicos e formalizou o oposto do que propagandeou

a respeito destas unidades. Fechou o

serviço de ortopedia das UPAs, uma das especialidades

mais procuradas, e orientou a população

a procurar três hospitais-referência, com instalações

já superlotadas. É uma decisão, no mínimo,

contraditória e desrespeitosa. Por isso, a Comissão

de Saúde Pública do Conselho Regional de

Medicina do Estado do Rio (CREMERJ) vai analisar

o seu impacto.

A Secretaria de Saúde afirma que tomou tal

decisão porque não conseguiu compor o número

mínimo de ortopedistas no último concurso.

Mas não há carência de ortopedistas no Rio de

Janeiro, como sugere a informação. Há, sim, por

parte do governo, oferta de baixos salários, maquiados

com gratificações, que não interessam

aos médicos que têm melhores opções de remuneração

no mercado de trabalho.

Se não há interesse em aumentar salários, não

há razão para gastar construindo e equipando UPAs.

É contraditório fazer investimento em infraestrutura

se não há gasto compatível e decente em recursos

humanos, ou seja, nos profissionais que fazem

toda a estrutura funcionar corretamente.

Luis Fernando Moraes,

Presidente do CREMERJ

Fonte: Editorial Jornal do CREMERJ • FEVEREIRO 2009

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