segunda-feira, 6 de agosto de 2018

Impacto da experiência brasileira na América Latina


                                                                               Imagem: Google


Nos anos de 1970–80, que ficaram marcados por
desaparecimentos generalizados, tortura e exílio de
muitos políticos, estudantes, escritores, cineastas e
outros artistas.
No entanto, os tempos mudaram para a América
Latina; a União Soviética caiu e os fuzileiros navais dos
EUA estão ocupados em outras partes do mundo. Então,
quando Evo Morales decidiu nacionalizar as empresas
estrangeiras exploradoras de gás e de petróleo,
justificou essa atitude declarando que os lucros
agora seriam destinados a apoiar o desenvolvimento
humano e social. Na verdade, a maioria das empresas
negociou compensações satisfatórias. Em um passado
não tão distante, essa nacionalização teria significado
esforços para mudar o regime, porque os “direitos” do
capital estrangeiro estavam sendo violados. Por outro
lado, a queda do império soviético e a turvação da
miragem idealista do paraíso de Fidel Castro, em Cuba,
abriram novas formas de olhar, avaliar e julgar o que
é melhor para os diferentes países, no enfrentamento
de seus variados desafios. Os latino-americanos já
não são mais rigidamente definidos pela ideologia
a favor ou contra determinados dogmas, mas estão
tornando-se cada vez mais pragmáticos e capazes
de avaliar melhor os benefícios e riscos, tanto de um
capitalismo desenfreado quanto de uma economia
de Estado fechada. A boa governança é essencial para
os avanços da saúde pública e governos respeitáveis
constituem um bom ponto de partida... e será ainda
melhor se as coisas forem feitas pelo povo, para o povo
e com o povo.
No Brasil, o governo democrático, em resposta às
demandas populares, com a participação popular e
contando com uma sólida economia de mercado,
trabalhou em sincronia para “girar a roda da fortuna”,
objetivando benefíciar a maioria ou, se possível, toda
a população brasileira.Seria difícil comprender
o processo das mudanças que levaram à melhoria
da saúde pública sem dar o devido crédito aos
movimentos sociais e às forças que catalizaram essas
mudanças. O ciclo virtuoso do poder incumbido
pelo povo para realizar um processo político sensível
às necessidades de saúde ao bem-estar de todos é o
verdadeiro motor do enorme progresso observado na
saúde. Nós, médicos e profissionais da saúde, somos
meros instrumentos para acelerar o progresso; algumas
vezes podemos avançar em nosso comprometimento,
naquelas ocasiões em que assumimos posições de
poder e de responsabilidade. No Brasil, as pessoas que
não toleravam o estado de coisas então vigente foram
responsáveis por tornar coisa do passado as injustiças
cometidas e por colocar o progresso em busca de um
mundo melhor no topo da lista de prioridades.
O Brasil tem dado motivos para que nos orgulhemos
de nossa profissão nesse ambiente em constante
mudança. Tendo enfrentado a diversidade racial,
cultural e política mais habilmente do que a maioria
dos países, o Brasil nos dá a grande oportunidade de
aplaudir jogadores de futebol sambando no campo
na hora do gol e de apreciar a garota de Ipanema ao
caminhar na direção do mar, fantasiada, em um dia de
carnaval – e tudo isso é parte de uma aspiração coletiva
e global de “ser os melhores do mundo”. Esse senso de
propósito e de orgulho nacional fornece a força que
permitiu ao país, coletivamente, aceitar o desafio de
proporcionar uma saúde melhor para todos. O Brasil
está unido para realizar a sua Copa do Mundo de 2014
e as Olimpíadas de 2016 – desafios na busca de “ser o
melhor” –, mas também deve continuar na busca do
progresso social e do aperfeiçoamento da saúde para
todas as pessoas, todas as raças e todos os credos.
Desejamos ao povo e ao novo governo do Brasil todo
o sucesso do mundo.
Prof. Dr. Aroldo Moraes Junior, MD, MBA, MBE, MSc, PhD
Publicado em The Lancet in Aug/6/2011