sábado, 13 de março de 2010

A origem do PITI = peitos = persuasão.


Ilustração de Charcot ministrando aula sobre PITI.

Jean-Martin Charcot (1825 - 1893), cientista francês nascido em Paris, e falecido em Morvan, França, alcançou fama no terreno da psiquiatria na França, na segunda metade do século XIX. Foi, um dos maiores clínicos e professores de Medicina da França e juntamente, com Guillaume Duchenne, o fundador da moderna neurologia.

Começou seus estudos médicos em 1844 e foi nomeado residente médico dos Hospitais de Paris em 1848 e chefe de Clínica em 1853. Sua tese de doutorado estabeleceu a diferença fundamento entre a gota e o reumatismo articular ou nodoso. Realizou estudos pioneiros sobre o sangue descobrindo as plaquetas que levam o seu nome, e descobriu também a gênese da claudicação intermitente. Foi professor na Universidade de Paris por 33 anos (1860-93). A partir de 1862 e até o fim da sua vida trabalhou no hospital da Salpêtrière, do qual foi diretor. Atraiu discípulos de toda a Europa, alguns deles, como Sigmund Freud, se tornariam famosos mais tarde. Orientou sua própria pesquisa sobre as doenças mentais para o campo da neurologia, criando uma clínica neurológica na Salpêtrière, que foi a primeira da Europa. É considerado o fundador da neurologia moderna.

Charcot tornou-se um hábil hipnotizador, e utilizava essa técnica para induzir no paciente as manifestações próprias da histeria, uma doença mental com variada sintomatologia psíquica, acompanhada de manifestações físicas como enrijecimento do corpo característico da doença. Charcot demonstrava para sua audiência de médicos e estudantes que ele podia usar a hipnose para criar em uma pessoa sadia sintomas como tremores, paralisia, insensibilidade à dor, e vários outros sinais próprios da histeria (um caso avançado de hipocondria e depressão) e que podia igualmente aliviar os sintomas dos pacientes histéricos mediante sugestão hipnótica.
Em muitas de suas experiências apresentou Blanche Wittmann, conhecida como "a rainha das histéricas", descrita como uma jovem bonita, autoritária e caprichosa. A qual foi diagnosticada por Charcot, como sendo portadora de PITI.

Charcot acreditava que a histeria resultava de um sistema neurológico fraco e era uma doença hereditária. Podia se instalar após a pessoa sofrer um acidente, era progressiva e irreversível. Um professor de extraordinária competência, ele atraiu estudantes de todas as partes do mundo. Um de seus estudantes em 1885 foi Sigmund Freud, e foi o emprego da hipnose feito por Charcot's na tentativa de descobrir a origem orgânica da histeria que estimulou o interesse de Freud pela origem psicológica das neuroses. Foram seus alunos, além de Freud, também os psicólogos Alfred Binet e Pierre Janet.

O médico Joseph François Félix Babinski (1857-1932), um dos discípulos de Charcot, peruano, filho de um diplomata francês servindo em Lima, Peru, e de mãe polonesa, descreveu em 1903 a extensão do hálux (dedão do pé) e a abertura em leque dos dedos em decorrência de um estímulo na planta do pé (o famoso sinal de Babinski).
Porem Babinsk discordava de seu Mestre quanto à fisiopatologia da Histeria, que poderia se manifestar como dito acima, após um trauma psicológico e principalmente houve discordância de ambos, quanto as formas de tratamento.

Hoje, a grandes maiorias dos profissionais de saúde, ao se deparar com um quadro de piti, o encaram como sendo uma tentativa do paciente chamar a atenção para si, quer seja por seus familiares e outros. Normalmente são relegados (deixados horas em macas, sem nenhuma intervenção séria) ou pior são alvo de chacotas e principalmente de pequenas crueldades (o momento em que deixamos aflorar o pequeno demônio que nos habita).

Concluímos que a forma como o profissional de saúde, encara este distúrbio psíquico, se compara as antigas lobotomias, eletetrochoques, choques de insulina e outros; praticadas nos pacientes diagnosticados como psiquiátricos.
Esta forma de comportamento dos profissionais é o resultado o pouco (ou desinteresse dos mesmos) em estudar o universo das doenças, fechando-se, apenas, nas patologias clássicas, com resultados que os levará ao seu momento de gloria, perante a sociedade; quer seja médica ou leiga. Para com isso auferir lucros, não só monetário mas até mesmo a satisfação interior de ter o seus 15 minutos de gloria.

É preciso repensar como tratamos os nossos pacientes e o PITI é um dos caminhos para esta reflexão. Agiríamos corretamente: orientando os familiares sobre esta doença e encaminharíamos estes pacientes para tratamento psicológico e psicanalítico adequado.

Prof. Dr. Aroldo Moraes Junior
Membro Titular da Sociedade Brasileira de História da Medicina.

Um comentário: