quarta-feira, 16 de março de 2011

O fim de um pesadelo.


Novos testes rastreiam a presença do HPV e antecipam o diagnóstico de câncer no colo do útero em vinte anos


Não há hoje arma mais eficaz na prevenção ao câncer de colo do útero do que o exame anual de papanicolau. Por meio dele, sob as lentes do microscópio, o patologista analisa o formato das células uterinas. Alterações na estrutura celular podem ser o prenúncio de um rumor maligno. Quando ele é descoberto precocemente, a cura é quase certa. De cada 100 testes realizados, no entanto, dez apresentam resultados falsos negativos - ou seja as células tumorais estão lá, mas passam despercebidas. É um índice de falha alto, quando se considera, sobretudo, o elevado número de vítimas do câncer de colo do útero. Todos os anos, 20.000 brasileiras recebem o diagnóstico da doença e 5.000 morrem em decorrência dela. Uma nova geração de testes tem conseguido reduzir a margem de erro para 1%. "Por serem totalmente automatizados, esses exames praticamente eliminam o risco de erro humano", diz o biólogo José Eduardo Levi, da Universidade de São Paulo. Eles conseguem detectar a presença do HPV antes de qualquer modificação na arquitetura das células do colo do útero.

Transmitido principalmente nas relações sexuais, o HPV está associado a 99% dos casos de câncer de colo uterino. Além de indicarem a contaminação, os exames mais modernos são capazes de determinar o tipo de HPV responsável pela infecção (existem cerca de 140 deles) e, com isso, a probabilidade de a paciente vir a desenvolver o tumor maligno. Ao esquadrinharem o material genético do vírus, antecipam o diagnóstico da doença em vinte anos - o método tradicional só é capaz de identificá-la dez anos antes. Pela primeira vez desde o fim da década de 40, quando o papanicolau entrou para a prática médica, surge uma tecnologia tão ou mais eficaz na prevenção ao câncer de colo do útero.

Desde 2009, o exame molecular automatizado do HPV já é usado no sistema público de saúde de vários países da Europa. Em alguns centros médicos da Inglaterra e da Holanda, ele substitui o papanicolau como rotina para a detecção do câncer de colo do útero. Na Finlândia, a mulher pode escolher entre os dois tipos de exame. O primeiro teste a ser aprovado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) é fabricado pelo laboratório Roche e deve chegar ao mercado em maio. Por aqui, a nova tecnologia só estará disponível, a princípio, em clínicas particulares.

Seu custo nem é tão alto: 90 reais, o equivalente ao cobrado hoje pelo papanicolau em laboratórios privados. Para os padrões do Sistema Único de Saúde (SUS), que paga 7 reais pelo exame tradicional, 90 reais representam uma fortuna. A expectativa é que, com a disseminação da técnica, seu preço caia para 10 reais, num processo semelhante ao ocorrido com o teste de HIV, que chegou ao país em 1996 pelo equivalente a 255 reais e hoje custa 20 reais.

De cada 100 mulheres submetidas ao papanicolau, três apresentam alguma lesão celular. Essas pacientes passam então por uma colposcopia, que utiliza uma lente de aumento para localizar a região do colo do útero da qual deve ser retirado o material para biópsia. Em caso de câncer, a área doente é cauterizada ou removida cirurgicamente. Com os novos exames, a lógica de investigação é inversa. Primeiro, procura- se o vírus. O resultado positivo para os tipos mais perigosos de HPV, especialmente os de números 16 e 18 serve de alerta para o ginecologista.

"Na imensa maioria das vezes, o vírus é eliminado naturalmente pelo organismo feminino", diz o oncologista Glauco Baiocchi Neto, do Hospital A.C Camargo, em São Paulo. Se em um ano, o HPV ainda estiver presente, o especialista recorre ao papanicolau para confirmar se as células uterinas foram ou não alteradas pela infecção. O papanicolau portanto, continua imprescindível para a manutenção da saúde feminina. O exame antigo começou a ser desenvolvido na década de 20 pelo médico grego George Papanicolau. Pesquisador da Universidade de Cornell em Nova York, ele estudava a função do colo do útero no ciclo reprodutivo da mulher, quando notou que muitas pacientes apresentavam lesões nas células uterinas. Dez anos depois, Papanicolau associou aquelas alterações ao surgimento do câncer. A relação entre a doença e o HPV só viria a ser estabelecida na década de 70, pelo médico alemão Harald zur Hausen - que, em 2008, ganhou o Nobel de Medicina pela descoberta.

Até recentemente, a infecção pelo HPV era considerada um problema tipicamente feminino. Um artigo publicado em março na revista científica Lancei derrubou essa tese. Ao acompanhar 1.159 homens aparentemente sem nenhum problema de saúde, entre 18 e 70 anos, pesquisadores brasileiros, americanos e mexicanos constataram que 50% dos voluntários estavam contaminados pelo HPV - entre os pacientes masculinos, o risco é de câncer de pênis, um tumor raro.

Fonte: Ministério da Saúde em 15/03/2011.
Foto: Google Imagem

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